O Negrinho do Pastoreio (Lenda Gaúcha)
Neste mês de maio o Brasil irá comemorar os 137 anos da abolição da escravatura, o fato ocorreu no dia 13 de maio de 1888, no Rio de Janeiro, antiga capital do Brasileira, o documento fora assinado pela princesa Isabel de Alcántara redentora. Além disso os irmãos ubandistas dedicam a mesma data aos pretos velhos.
Sendo assim trouxemos o Negrinho do Pastoreio, uma lenda gaúcha que fala de um menino escravo que foi socorrido por Nossa Senhora.
Pintura O Negrinho do Pastoreio de Aldo Locatelli
exposta no Palácio Piratini, RS.
Fonte da imagem:Segue abaixo o texto:
Sem dúvida alguma, a lenda mais popular no extremo sul do Brasil ainda é a do Negrinho do Pastoreio, uma história triste e violenta. O escritor gaúcho Simões Lopes Neto foi o maior divulgador da lenda, a qual reconta-se agora, em outras e inferiores palavras.
Havia, nos tempos idos, um
estancieiro perverso que adorava maltratar os escravos. Na estância desse
demônio, vivia um negrinho chamado simplesmente de Negrinho. Não tendo mãe nem
pai, ninguém se lembrara de batizá-lo. Graças a isso, dizia-se que era afilhado
de Nossa Senhora.
Certo dia, o estancieiro perverso
resolveu organizar uma corrida de cavalos. O Negrinho, bom de cavalhadas,
deveria conduzir o cavalo do patrão.
– Se perder a corrida já sabe! –
ameaçou o estancieiro, mostrando-lhe o punho.
Deu-se, então, a corrida, e o
Negrinho levou a pior. Mas a pior, mesmo, ele ainda estava por levar. O
estancieiro perverso havia perdido mil onças de ouro, e queria se vingar no
menino.
– Esse tição me paga! – dizia
ele, vibrando o relho no ar, em juras de ódio.
Nem bem o povaréu se espalhara ao
redor dos espetos de carne gorda, o Negrinho viu-se amarrado numa estaca, na
qual levou uma horrenda surra. Lá ficou a noite inteira, e só quando amanheceu
foi retirado e levado a um pedaço ermo de campo.
– Vai ficar aqui pastoreando o
gado durante trinta dias, pois trinta quadras tinha a cancha reta onde perdeu a
corrida! – disse o patrão, deixando o Negrinho sob o sol escaldante, sob o
granizo furioso, sob o frio enregelante, e sob tudo o que há de molesto na mãe
natureza.
Durante as noites, o Negrinho
provava outra colherada cheia do inferno: cercado por corujas, onças, lobos,
javalis ou outros bichos que havia então pelos pampas, só encontrava algum
sossego ao lembrar da sua Madrinha, e aí adormecia com um sorriso nos lábios. E
foi justo numa dessas pausas do sofrimento que a sua ruína se completou: um
bando de ladrões de gado, aproveitando o sono do pequeno vigia, levou consigo
todo o gado. Não é preciso dizer que, no dia seguinte, o Negrinho provou outra
surra daquelas.
– Agora vai procurar o gado que
deixou levarem! – disse o patrão, mandando-o, noite fechada, para os campos
abertos. O Negrinho passou antes na capelinha da sua Virgem Madrinha e levou uma
vela para alumiar os caminhos. Enquanto avançava pelos campos, deixava cair um
pouco da cera incandescente. Os pingos ficavam queimando pelo chão, como
pirilampos, enquanto ele avançava. Então, de tanto avançar, ele finalmente
achou o campo do pastoreio. O gado estava lá, e ele se deitou para dormir,
agradecendo à Madrinha Celeste. No meio da noite, no entanto, o filho do
estancieiro, um rapaz ainda pior do que o pai, veio de mansinho e espantou,
outra vez, os animais. O laço cantou de novo, e desta vez o Negrinho não
resistiu e morreu. A coisa toda se deu em campo aberto, e o patrão desgraçado
achou que o Negrinho não merecia nem mesmo uma cova.
– Atire-o ali no formigueiro! –
disse ao filho.
O corpo do Negrinho foi posto
sobre o formigueiro, e as formigas caíram em cima, comendo tudo.
Quando chegou em casa, o
estancieiro sonhou que ele era mil estancieiros, e que tinha mil filhos, e mil
negrinhos para maltratar, e mil onças de ouro para gastar em bobagens.
Durante três noites, o
estancieiro sonhou o mesmo sonho. Então, na terceira noite, tomado pelo remorso
– ou pelo medo de ser descoberto –, resolveu voltar ao formigueiro para ver se
as formigas haviam comido todo o corpo. Ao chegar lá, porém, deparou-se com a
figura do Negrinho, em pé sobre o formigueiro, são e sem marca alguma de
ferida. Ao seu lado, estava a sua Santa Madrinha, toda serena e fosforescendo
em azul. Os bichos perdidos também estavam todos ali. O estancieiro caiu de
joelhos e mãos postas, arrependido, mas o que ele sentia mesmo era um medo
terrível de que algum castigo caísse sobre si. Enquanto o estancieiro se enchia
de medo, o Negrinho montou, em pelo, em cima de um dos cavalos e saiu a tocar
alegremente a tropa pelas coxilhas.
A partir daquele dia, o Negrinho
passou a ser chamado de Negrinho do Pastoreio. Encarregado de encontrar coisas
perdidas, ele faz a busca de bom grado, mas sempre pedindo uma vela para a sua
madrinha.
Fonte do texto: E-book As 100 melores Lendas do Folclore Brasileiro
Autor: A. S. Franchini
Edição: Rodrigo Leal
Negrinho do Pastoreio (Conjunto Farroupilha)
No Tempo do Cativeiro (Ponto de Umbanda)
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